Um matuto amigo meu
da região de Belém
depois que ganhou no bicho
meia duzia de vintém
Comprou em Caruaru
um caminhao óleo cru
sem nenhuma garantia
tao velho que os parafusos
se misturava confuso
na velha carroceria
Emplacamento vencido
o caminhao tinha três
multa nem vou falar
era trinta todo mês
apesar de tudo isso
ainda prestava serviço
a sua comunidade
Quando era notificado
que um político afamado
delvolveu-lhe a liberdade
Sei que Ciço conseguiu
através de um candidato
licenciar o pau velho
para trabalhar no mato
lá trabalhou em rodagem
ajudou a fazer barragem
carregou lenha e carvão
E com um ano de serviço
tinha dinheiro pra Ciço
comprar outro caminhão
Agora já eram dois
de dois passou pra três
comprou o quarto e o quinto
com três anos tinha seis
fora fazenda de gado
trator de esteira e arado
pulandeira de algodao
casa na periferia
era rico e não sabia
Ciço de Napoliao
Colocou numa garagem
um velho alfa-romeo
fundou a CLN
sigla do comércio seu
depois de formalizada
butou a frota na estrada
a serviço do transporte
para qualquer condução
existia um caminhão
da Ciço Lião do Norte
Solteiro sem compromisso
nunca prendeu-se a ninguém
namorou com quem bem quis
de Petrolândia a Belém
Até que um dia em Floresta
chegou pra fazer a festa
um circo bom
de primeira
e na noite que estreou
Ciço se apaixonou
pela Galega Rumbeira
E o amor dita e rege
o coral do coração
ele que atingiu em cheio
Ciço de Napolião
Todo noita ia aplaudi-la
sentado a primeira fila
cheio de felicidade
e ela muito cortês
demonstrava ao seu freguês
total reciprocidade
Até quando duraria
essa súbita paixão
seria mais uma lebre
pra a sua coleção?
Uma moça bailarina
tão meiga quase divina
veio mesmo pra ficar
ao lado desse rapaz
que tantas largou pra traz
sem nunca se apaixonar
Circo em cidade pequena
nós sabemos muito bem
que na noite que da gente
na outra não vai ninguém
Só as tristeza aumentam
e os donos nao agüentam
por isso tem que arribar
porem lá deu-se o contrário
Ciço marcou salário
mandou o circo ficar
Por uma dona galega
vendeu logo um caminhao
a casa e a pulambeira
de despoupar algodão
depois a terra e o gado
o trator e o arado
pra fazer numerário
com o que reabastecia
o circo que se enchia
por conta do empresário
Nenhum dos dois entendia
o que tava acontecendo
agora bem mais que antes
iam se compromentendo
tinha gente que dizia
aquilo era bruxaria
mais não era não senhor
era só dois corações
a busca de soluções
no Tribunal do Amor
Tudo que possuia
restava o alfa-romeo
do começo da história
que tanto prazer lhe deu
de maneira inteligente
combinou com aquela gente
de que se ele fez oriundo
Desarmou o pavilhão
carregou o caminhão
e entrou no lombo do mundo
Onde ele andou ninguem sabe
o que praticou não diz
apesar de tudo isso
se considera feliz
O que passou por Floresta
só a saudade lhe resta
e do circo do passado
uma pequena barraca
um quartim, uma macaca
e a Galega ao seu lado.
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